Você já foi criança um dia, mas os seus anos se dobraram e fizeram de você,
um jovem adulto, e agora você me olha com certo desprezo, só porque muitos
anos se dobraram para mim e, hoje sou um velho.
Você observa minhas mãos trêmulas e encarquilhadas e se esquece que foram
elas que ajudaram a acariciar as suas, inseguras na infância.
Critica os meus passos lentos e vacilantes, esquecendo-se de que foram eles
que orientaram seus primeiros passos.
Reclama quando lhe peço para ler uma palavra que meus olhos já não conseguem
vislumbrar com precisão, esquecido das várias palavras que eu repeti
inúmeras vezes para que você aprendesse a falar.
Fala da lentidão das minhas decisões, esquecendo-se de que suas primeiras
decisões foram por elas balizadas.
Diz que eu sou um velho desatualizado e sem estudo, mas eu confesso que
pensei muito pouco em mim, para fazer de você, um homem de bem.
Reclama da minha saúde debilitada, mas creia, muito trabalho foi preciso
para garantir a sua.
Ri quando não pronuncio corretamente uma palavra, mas eu lhe afirmo que
esqueci de mim mesmo, para que você pudesse cursar uma universidade.
Diz que não possuo argumentos convincentes em nossos raros diálogos,
todavia, muitas foram às vezes que advoguei em seu favor, nas situações
difíceis em que se envolvia.
Hoje você cresceu e é um homem robusto e a juventude lhe empolga as horas,
esqueceu-se de sua infância, seus primeiros passos, suas primeiras palavras,
seus primeiros sorrisos, mas acredite, tudo isso está bem vivo na memória
deste velho cansado, em cujo peito ainda pulsa o coração amoroso de outrora.
É verdade que o tempo passou, mas eu nem me dei conta, só notei naquele dia
em que você me chamou de velho pela primeira vez e, eu olhei no espelho, lá
estava um velho de cabelos brancos, vincos profundos na face e um certo ar
de sabedoria, que na imagem de ontem não existia.
Por isso eu lhe digo meu jovem, que o tempo é implacável, e um dia você
também contemplará o espelho e perceberá que a imagem nele refletida não é
mais a que hoje você admira, mas você sentirá que em seu peito, o coração
ainda pulsa no mesmo compasso; que o afeto que você cultivou, não se
desvaneceu; que as emoções vividas, ainda podem ser sentidas como nos velhos
tempos; que as palavras amargas, ainda ferem com a mesma intensidade; e que,
apesar dos longos invernos suportados, você ficou frio diante da indiferença
dos seres que embalou na infância.
Por isso que lhe aconselho meu filho, não ria nem blasfeme do estado em que
estou, eu já fui o que você é, e você será o que hoje sou.PENSE NISSO E TENHA UM EXCELENTE DIIA!!
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